10/12/2016

Deslocamento

         
Ilustração: Ator Gary Dourdan

         Eu não o ouvia mais, ele havia perdido a fala. As palavras de Serafim que perpetuavam em minha mente eram as mesmas de 32 anos atrás. O único som que ele conseguia proferir eram gemidos de dor e quando eu me levantava e verificava a fonte das dores, era como se a minha presença milagrosamente já aliviasse algum mal estar.

          Uma vez demasiadamente temeroso, quando já havia voltado ao quarto que havia improvisado para ele muito mais vezes do que nas outras noites, minhas pálpebras pesavam tanto que não vi outro jeito a não ser o de me colocar ao seu lado na cama. Embora a poltrona fosse confortável, eu não dormi. Serafim parara de gemer e eu remexia as minhas memórias involuntariamente e então, quem passou a gemer internamente com dores profundas fui eu. Isso se repetia com tanta frequência que eu concluía dramaticamente que me fazer passar a noite em claro com o pensamento atribulado pelas dores do passado, era uma forma de Serafim terminar a vida sendo sádico comigo.
          Toquei em seu peito verificando sua respiração. Era tão suave que quando ele estava de olhos fechados eu duvidava que esta ação natural ocorria. Ficava aliviado quando constatava que sim, a não ser pelo fato de saber que lá no fundo, minha preocupação contínua era que eu o perdesse mais uma vez, agora que o tinha de volta. E isso me assustava, eu não queria ter essa proximidade. Julgava que aquele homem não era digno de um átomo do meu afeto. Mas era incontrolável e se aflorava crescendo incrivelmente um pouco mais a medida em que o passado ia ficando a cada novo dia, mais no passado.
          Ainda com as mãos sobre seu tórax eu ergui minha coluna lentamente quando a campainha tocou. Ele abriu os olhos e nos fitamos por longos segundos até ela tocar novamente. Eu respirei fundo, peguei o terno e a mochila ao lado da cama, na cômoda estava um envelope ainda lacrado que eu alisei assim que peguei nas mãos. No dia anterior eu não quis abri-lo, na realidade, eu tinha muito medo da verdade, mas naquele momento era necessário, porque eu não tinha alternativa a não ser descobri-la logo e me voltando para Serafim com um sentimento que eu não saberia jamais transcrever depois de olhar minuciosamente o conteúdo do envelope, fui abrir a porta para Glaucia que impaciente, havia tocado a campainha pela quarta vez.
         – Porque demorou tanto a abrir? – Eu olhei no relógio, já havia se passado uns 15 minutos de seu horário – Passei na padaria e... Mas sua cara está péssima – ela havia notado. Expliquei que não havia dormido a noite toda. Ela simulou uma expressão sofrida para logo depois desmanchá-la em um sorriso questionando se eu havia feito o café – Hoje vou dormir aqui. Você vai poder descansar melhor, não quer esperar pra tomar café comigo? – disse amigável tentando arrancar em vão uma expressão de conforto. Eu só balancei negativamente a cabeça saindo apressado, precisava urgentemente encontrar Olívia.
           Ela morava um pouco distante, mas eu levaria um tempo bem maior do que o normal para chegar à sua casa uma vez que me era impossível dirigir sem parar inúmeras vezes para assimilar o que estava acontecendo. Lembrei de quando começamos a namorar, foi difícil assumir mais um relacionamento sério, pois, eles sempre acabavam mal. Aliás, eu queria muito me livrar dos ciúmes, mas era inevitável, eu não sabia exatamente o motivo, mas eles faziam parte de mim e era exatamente o fato dos meus relacionamentos nunca darem certo. Olívia tinha um olhar encantador e um jeito sensual, embora sutil como a sombra. Era tão questionadora... Assim que começamos um relacionamento sério, ela quis saber da minha vida desde que eu era um feto. Eram tantas perguntas e, muitas delas, em relação a minha infância, ficavam sem respostas porque eu não conseguia lembrar esta parte da minha vida sem que meu semblante ficasse distorcido. Estávamos juntos há pouco mais de dois anos, era o meu relacionamento mais longo, seus gestos contavam-me segredos sobre si que ela mesma desconhecia, mas ela pouco sabia sobre meu passado.
          Um dia caminhando com Olívia pelo Parque das Águas, vi um rosto conhecido e fechei o semblante mais nublado que pude para que não me reconhecessem ou para que aquela minha expressão fosse um obstáculo para possíveis abordagens indesejáveis. Olívia notou minha mudança repentina e perguntou-me o que estava ocorrendo. Não fui capaz de responder. A resposta viria em seguida. Meus sinais de "quero você longe!" foram ignorados.
          Nina era tão alegre e doce, que eu não pude sustentar a expressão de arrogância nos olhos quando ela se aproximou e me abraçou instantaneamente dizendo que eu não havia mudado nada. Perguntou-me se ainda encontrava alguém do abrigo. Ligeiramente balancei a cabeça negando. E ela citou o nome de uma amiga que frequentava minha casa, a qual Olívia conhecia bem, fazendo-a apertar os olhos tentando juntar as informações e tirar a conclusão de que eu estivera em um orfanato e que conhecia Nina e essa amiga de lá. Nina irrompeu um mar de informações que eu não havia pedido sobre os antigos membros do orfanato que ela ainda mantinha contato, chacoalhava um bebê que dormia em seu colo e informou que seu marido estava por perto com seus outros dois filhos, apontando na direção do outro lado do lago. Quando ela finalmente notou que eu não estava correspondendo sua alegria em reencontra-me e respondendo de forma monossilábica todas as perguntas que fazia, finalmente deu adeus e ainda sorridente afastou-se.
          Fixei os olhos em meus sapatos assim que sofregamente sentei no banco úmido do parque. Olívia não quis molhar o vestido e se pôs em pé ao meu lado ocultando com angústia um monte de perguntas que eu tinha certeza que ela gostaria de fazer-me naquele momento. Mas Olívia devia mesmo ser de outro mundo, pois, quando Nina se foi, ela percebeu que minha aflição em relembrar o passado era maior que a aflição de sua curiosidade. Ela roía as unhas da mão esquerda todas juntas demonstrando um nervosismo fora do comum, não sabendo como começar a questionar ou se deveria fazer isto naquele momento.
           Depois de longos minutos de costas, sentou-se ao meu lado e me abraçou encostando a cabeça no meu ombro. Como prêmio por entender meu silêncio, eu achei que deveria contar-lhe tudo e ali mesmo no Parque entre os tranquilizantes verdes lubrificados pela poeira da chuva que houvera caído, comecei a desengasgar cada dor.
          20 de julho de 1967, eu estava no quarto que sempre havia sido meu há 9 anos. Meus olhos inchados de tanto chorar pela morte da minha mãe. Eu ainda estava com a mesma roupa que havia ido ao velório.
          Depois que meus avós morreram, Carmem, irmã da minha mãe passou a morar lá no Rio com Serafim, minha mãe e eu. Ela foi a única parente que eu conheci. Naquele momento ela e Serafim discutiam alto na sala e eu sabia que eles estavam falando de mim. Quando o silencio voltou, percebi que meus esforços para entender a discussão me fizeram parar de pensar em meu sofrimento e quando eu retornei a ele, cai inerte na cama entorpecido pela minha dor e foi então que ouvi a porta do quarto sendo aberta com toda força e Serafim gritando comigo de um jeito insuportavelmente pior do que das últimas vezes:
          – Sai! Sai daqui agora! – Carmem tentou segura-lo suplicando a ele para se acalmar porque os vizinhos poderiam ouvir. Meu coração parecia que iria explodir. Ela olhou para o meu semblante e pediu calma garantindo falsamente que tudo iria ficar bem. Não iria! Ela sabia. Havia acabado de perder minha mãe e estava prestes a perder um pai dali a poucos dias de uma forma incrivelmente pior.
          Depois de alguns longos e aterrorizantes minutos eu ouvi um barulho de carro arrancar e corri para sala. Carmem saiu do banheiro ainda de toalha dizendo que do jeito que ele saíra, algum acidente poderia acontecer.
          – O que esta acontecendo, tia Carmem?
          Ela se deu conta que estava só de toalha, me pediu pra esperar e voltou correndo para o banheiro.
          Já fazia mais de 40 minutos que eu esperava encostado na porta do banheiro, sentado no chão, abraçando os joelhos. Enterrei o rosto quando soube que ela também chorava baixinho.
          Quando ela saiu, estava com roupa de festa. Eu sabia que era uma roupa de festa, pois há algumas semanas atrás, quando ela tirou o vestido vermelho de dentro da sacola, ela falou para mamãe que comprara um vestido lindo de festa. E eu o reconheci naquele momento. “Para qual festa tia Carmem estaria indo depois de enterrar a irmã?” Pensei. Ela foi até o quarto e voltou com a bolsa presa aos ombros dizendo que precisava ir.
          Eu rasguei um pedaço do vestido de festa da Carmem implorando pra que ela não me deixasse sozinho. Quando finalmente nos cansamos, ela me puxou para o quarto, enxugou minhas lágrimas pedindo pra que eu tomasse um banho, mas, eu desesperado que ela aproveitasse esse momento para ir embora, somente troquei de roupa. Ela me deitou na cama, trocou os meus sapatos e deitou-se ao meu lado. Eu lutei com toda força para não dormir, mas o que eu mais temia aconteceu. Quando o sol se levantou pela manhã, eu estava sozinho.
          Serafim voltava fedido e bêbado após dois dias fora de casa. Mas eu achei seus olhos mais calmos e acreditei que tudo ficaria bem na medida do possível até que, ele me sentou no braço do sofá, se abaixou na altura de meus olhos e foi falando com os olhos verdes mais frios que eu já vi:
          – Você não é meu filho! Só aceitei você aqui porque eu amei a burra da sua mãe mais do um homem deve amar uma mulher. Ela viajou para Sergipe e ficou lá por duas semanas e voltou grávida de você. Mas você não é e nem nunca será meu filho. Agora que ela está morta... Eu quero que você se vire. Arrume suas coisas que vou te levar para um orfanato. Você também morreu pra mim.
          Antes da morte levar minha mãe, ela já não vivia. Serafim abria feridas nela com as palavras pontiagudas que proferia, embora sempre achei que elas doessem muito mais em mim. Mamãe suportava tudo aquilo porque não tinha para onde ir doente como estava e também porque socialmente, na época, determinadas humilhações eram frequentes e deveriam ser toleradas silenciosamente pela mulher que as sofresse. Principalmente se esta fosse negra, pobre e sustentada pelo marido branco. Minha mãe não tinha fala, minha mãe não tinha voz e Serafim era o herói do bairro, ninguém imaginava que ele humilhava a mulher que tinha câncer só pelas supostas traições. Toda vez que ele levantava a mão para ela insinuando alguma agressão física, magicamente se continha e eu agradecia à vida por isso, embora, ele sempre inventava algum motivo para descontar toda sua raiva em mim.
          Contudo eu nutria bons sentimentos por ele, pois era isso que minha mãe cultivava dentro de mim sempre que eu apanhava dele. Porém, naquele momento que ele disse que eu não era seu filho, me senti grato de alguma forma, apesar de estar em choque e um pouco confuso em como seria minha vida dali para frente. Fiquei de certa forma satisfeito por aquele homem que sempre arrumava um jeito de marcar meu corpo com violência, não ser meu pai, embora eu tivesse muito medo do que iria me acontecer.
           O que minha mente tentava expulsar com repulsa, mesmo depois de ver Carmem e Serafim tão próximos várias vezes, veio à tona no momento em que saí no portão com a mochila nas costas e a vi sentada no banco do carona do Hillmann Super Minx, lixando as unhas. Eu interpretei que Carmen se lixava para o que eu estava sentindo também, embora, assim que me viu tentou não me encarar nos olhos, parando imediatamente a ação.
           No caminho, ele me contava as estapafúrdias – era essa a palavra que ele usava com ênfase e muito ódio – que minha mãe fazia quando ia para Sergipe. Serafim contava com detalhes todos os casos de minha mãe, que segundo ele, foram relatados por Carmem. Ela balançava a cabeça confirmando cada mentira, que na verdade, haviam sido primeiramente inventadas por ela. Eu tratava de limpar veloz e audaz cada lágrima que insistia em descer, como se fosse proibido que elas caíssem, até que elas rolavam muito mais ligeiras que minha rapidez em enxugá-las.
           Eu não conseguia lembrar da minha mãe assim. Eu sabia que ela amava Serafim. Sabia, sim. Quando eu chorava reclamando para ela que eu o odiava, ela sempre dava um jeito de defendê-lo dizendo que na verdade ele era um homem bom. Entendi que minha mãe era grata a ele por algum outro motivo que acabou se confirmando assim que ele parou o carro em frente ao abrigo. Serafim descarregava as palavras como quem atira um fardo ao chão:
          – Sua mãe nem sabia se você era meu ou do tal do banqueiro que comeu ela lá em Sergipe. Agora se você é filho do banqueiro, do padeiro eu não sei. Meu filho é que você não é. Só te aceitei porque ela foi e será a única mulher que amei nessa vida – Carmem tremeu e fez uma expressão enojada seguida por um ódio estampado em cada linha de seu rosto quando ouviu essa última frase.
          Minha mãe sentia-se grata por Serafim cuidar de um filho que ela não tinha certeza se era dele. Por isso, ela o qualificava como um homem bom? Minhas certezas estavam fragilizadas, a não ser por saber que enquanto viveu, minha mãe havia me amado. E saber disso me bastou ou me confortou naquele momento funesto.
           Passei a adolescência planejando minuciosamente em minha mente uma morte bem dolorosa para Carmem e Serafim.
          Até que depois de longos anos, mais precisamente 31 anos, 3 meses e 17 dias, recebi uma ligação de uma senhora que parecia um pouco idosa pela voz. Ela pedia para atende-la à porta pois estava no meu portão. Eu reconheci pela minha intuição, sempre soube de alguma forma que aquele momento iria chegar.
          Carmem mal conseguia andar. Fez menção de me abraçar, mas conteve-se mostrando que sua sensatez não havia se esvaído com a beleza da sua juventude.
          Quando eu a permiti entrar, ela olhou meu apartamento com o mesmo desdém que contornou o olhar em volta do prédio do orfanato que Serafim me levou há alguns anos atrás. O que Carmem levou aos meus ouvidos foi ainda mais terrível que eu imaginava. Cresceu em mim um misto de gratidão pela verdade e pela dor de tê-la ouvido, embora minha alma ficaria novamente marcada pelo relato de uma nova violência que mamãe sofrera. Eu tremia por dentro e por fora contorcendo meus músculos internamente enojado com o que ouvia.
          Contava que em Sergipe havia um banqueiro apaixonado por minha mãe desde a época em que elas eram mais moças. Uma noite, ele foi procurar por ela assim que soube que ela voltou à Ribeirópolis, na cidade em que morava meus avós e minha mãe disse ao sujeito que não a procurasse mais porque havia se casado. Já apaixonada por Serafim, armou uma forma de mamãe ficar sozinha com o tal do banqueiro e segundo as informações do homem, eles teriam se relacionado. Mamãe confirmou a história e foi obrigada por Carmem a repeti-la à Serafim assim que descobriu que estava grávida um mês depois.
           – Eu não conseguia pensar em outra coisa, a não ser em ter o amor que Serafim dedicava à sua mãe todo pra mim – minha voz sumira, eu simplesmente fui incapaz de dizer uma única palavra – Serafim nunca deixou de amar sua mãe, ele só me quis quando ela morreu. Nós nunca fomos amantes – eu não consegui acreditar nessa última parte – ele só tinha olhos pra ela e eu nunca fui amada por ninguém. A inveja é algo macabro. Eu amava a sua mãe, foi ela que me permitiu morar lá no Rio com vocês – eu me levantei e ela se recolheu com medo do que eu poderia fazer. Serrei os punhos e minhas veias ficaram saltadas. Mas o pior ainda estava por vir. Quando eu me acalmei e me sentei para que ela pudesse terminar o seu relato, ela disse que precisava reparar os erros e que precisava de perdão porque conviver com aquela culpa a fez adoecer como adoeceu minha mãe – Sua mãe não traiu Serafim, o banqueiro a usou com força, entende?
            Lembro que minhas mãos foram à cabeça e eu fiz um esforço grande para não gritar. Minha vontade era de pegá-la pelo braço e enxotá-la do meu apartamento.
          – Você não imagina o quanto isso me dói – ela prosseguia sem que eu fosse capaz de encará-la, era como se meu semblante pudesse se petrificar ao encarar a monstruosidade que era Carmen contando todas aquelas humilhações a qual submeteu minha mãe.
          “Não, sua estúpida! Minha mãe morrera de câncer e fui abandonado pelo cara que eu achava que era meu pai até então, descobri que minha tia fez de tudo para destruir a minha família e descobria que era fruto de um estupro. Não! Isso doía infinitamente mais em mim.” pensava atormentado.
          – Ela me falou isso com muita vergonha dias antes de partir e me fez prometer que eu jamais contaria a alguém. Eu nunca fui capaz de dizer isso a Serafim porque eu o amava cegamente. Era, era algo... macabro! – repetiu como se com aquele termo pudesse transferir sua culpa para um outro ser.
          Não consegui dizer nada àquela mulher aos prantos à minha frente. Carmem tentava, como se fosse possível, justificar que fazia o possível para  destruir o casamento de Serafim com minha mãe por ela ser a filha mais amada por meus avós e que o que mais a motivou foi a inveja, principalmente pelo amor que Serafim tinha por ela, por ela ter uma família.
          Carmen jamais saberia identificar meu timbre de voz, pois eu fui incapaz de dizer algo, embora meus pensamentos estivessem gritando, minhas cordas vocais estavam paralisadas. Desde a época em que estava no carro indo para o orfanato, não precisava mais do esforço de conter as lágrimas, pois, após aquele dia, elas não mais caíram. Eu só fiquei longos momentos com a cabeça baixa tentando entender o motivo de minha mãe ter sofrido tanto.
           Quando percebi que ela havia terminado seu relato, simplesmente levantei-me, abri a porta expulsando-a do mesmo ambiente que eu e, assim que ela atravessou a porta, estendeu a mão para mim e me deu um papel que estava dobrado. Fechei a porta sem me despedir e desejava pôr fogo naquele apartamento em que Carmem colocou os pés, recolher aquele papel de suas mãos, era um esforço descomunal, no entanto, eu fiquei refletindo por dias no conteúdo que ele trazia.
            Até que alguns meses se passaram e eu tomei uma decisão. A mais difícil da minha vida e, parado em frente à casa de repouso, fiquei longos minutos ali parado conferindo o endereço e me perguntando se aquilo estava certo ou não. Serafim não iria ter o fim que eu havia planejado para ele. 
            Levou alguns meses para que eu o trouxesse para São Lourenço. Carmem que era sua esposa, assinou os papéis o liberando para passar o resto dos seus dias com a pessoa a quem ele desprezou. Foi uma missão quase impossível e eu não sei o motivo de eu ter lutado tanto por isso. Serafim não andava, não saía da cama e se alimentava pela sonda. Não era mais belo e forte como antes, eu jamais iria maltratá-lo como ele me maltratou. Eu nunca iria abandoná-lo como ele me abandonou. No dia em que eu o trouxe para casa, eu transpirava tanto que desconfiei que não era suor, mas lagrimas que saiam pelos meus poros já que eu as havia segurado por tanto tempo. Para Olívia, ele era apenas o ex marido da minha mãe. Então ele fez alguns exames de sangue e eu fiz um novo pedido. Teste de paternidade. Levava agora o resultado positivo para Olívia. Serafim era meu pai.

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Deslocamento: Em psicanálise é um mecanismo de defesa que está relacionado a uma troca no sentindo que uma dada representação muda de lugar e passa a ser representada por uma coisa ou uma pessoa.
 

4 comentários:

Dayane Reis disse...

Olá! O gritos de dores e a lembranças do passados não muito boa, juntos realmente pode se transforma em uma mistura de tirar os sono. Que família em... Tadinho do menino ouvi que não é filho do cara e só foi aceito lá porq o cara amava a mãe dele.... É um texto bem completo, forte e bem escrito. Bom você ter colocado o significado de deslocamento no final, assim o leitor pode entender melhor o que você quis passar na história. Beijos'

Marcia Lopes Lopes disse...

Nossa! Que história mais triste para todos os envolvidos.
Sinceramente não sei se conseguiria não maltratar nem que fosse pra dizer a verdade na cara de Serafim.
Deixa ver se entendi, o deslocamento nesse texto está nas ações de Serafim?
De qualquer forma que texto tenso. Li avidamente.
Bjs

Bru Costabeber disse...

Olá!
Desconhecia Deslocamento com essa definição em psicanálise e achei o seu texto muito interessante e repleto de reflexão. Esse final parece trazer uma redenção sofrida e isso fez meu coração apertar.
Adorei seu texto.
Beijos

Eliziane Dias disse...

Exatamente! Ele amava a mulher e achava que ela o havia traído, mas ele não descontava sua raiva nela, e sim no filho. O filho que demonstrou amor ao invés de ódio quando teve a chance de reencontrar o pai. Obrigada por sua mensagem e sua visita, Marcia!